segunda-feira, 4 de julho de 2011

Aparentemente simples!


Considero esse artigo do Sr.Rubem Alves muito bom para iniciar essa proposta de análise crítica do paradigma teórico da psicologia do trabalho, predominante nos meios de comunicação. Seu objetivo principal foi mostrar a possibilidade de transformação pedagógica do seguinte dito de Riobaldo, clássica personagem de Guimarães Rosa: "O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia". Depois da transformação, ficou assim: "A inteligência não está na saída e nem na chegada, ela se dispõe para gente é no meio da travessia". O leitor já deve estar curioso para saber o que isso tem a ver com psicologia do trabalho. Pois bem: minha proposta refere-se à possibilidade de transformação psicológica desse dito: "O trabalho humano não está na saída e nem na chegada, ele se dispõe para a gente é no meio da travessia". Não se observa o trabalho humano lendo as instruções de como fazer um sapato, nem mesmo olhando para o próprio sapato depois de pronto. 
      Para compreender e analisar o trabalho humano, envolvido nesse processo, é preciso, no mínimo, ver alguém fazendo o sapato, ou então, fazer um sapato. Evidentemente, se o que importa é o que está no meio da travessia, é preciso considerar, de início, em eventuais análises desse trabalho, quem faz, com quem faz, como faz e onde faz.
      Tal condição, portanto, inviabiliza análises e práticas, bastante comuns em psicologia do trabalho, que enfatizam o papel do trabalhador nos processos de trabalho, sem as devidas contextualizações. As eventuais "falhas humanas" detectadas nos ambientes de trabalho, não se referem apenas a fatores individuais, desrespeito ao trabalho prescrito ou até mesmo decisões "premeditadas" dos trabalhadores. 
      Nesse caso, questiona-se qual a real pertinência da enorme quantidade de treinamentos, espalhados pela maioria das organizações de trabalho, que buscam, exclusivamente, "corrigir e orientar" o comportamento humano? Não há um equívoco em estruturar tais práticas, na maioria das vezes, apenas a partir de modelos de tarefas ideais e descontextualizadas?   

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