sexta-feira, 1 de julho de 2011

Cenários do mundo do Trabalho

      1º de maio é o Dia do Trabalho. Comemorado desde 1895 no Brasil virou feriado nacional em setembro de 1925. Depois de um século e alguns anos, o que temos nós para consagrar nesta data? Quais são, atualmente, as principais tendências e perspectivas do mundo do trabalho?
    A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 6.000 trabalhadores morrem a cada dia no mundo devido a acidentes e doenças relacionadas com o trabalho. Além disso, a cada ano ocorrem 270 milhões de acidentes de trabalho não fatais e 160 milhões de casos de doenças profissionais. Apenas no Estado de São Paulo, segundo a Coordenação Estadual de Saúde do Trabalhador, a cada ano ocorrem 400 mil acidentes e doenças relacionadas com o trabalho, dos quais 5.000 chegam a óbito (2 mortes a cada 3 horas). O custo estimado é de 4,8 bilhões de dólares ao ano.
       Além desses indicadores, sabe-se que no Brasil, convivem, ao mesmo tempo, modernas organizações empresariais com boa organização e condições de trabalho e a prática do emprego de mão-de-obra escrava em algumas cadeias produtivas. A realidade do emprego estável para toda vida acabou, em contra partida, verifica-se o crescimento de formas mais precárias de inserção no mercado de trabalho. O trabalho informal responde por cerca de 70% de nossa População Economicamente Ativa (PEA). A reestruturação produtiva reduziu o emprego na indústria e assistimos ao forte crescimento do setor de serviços. Vale salientar ainda, o aumento significativo do trabalho feminino, geralmente ligado a atividades de baixa qualificação e remuneração, além da baixa perspectiva de emprego para os jovens e para os trabalhadores considerados “idosos”.
   Nesse cenário, novas competências e habilidades são exigidas dos trabalhadores, assim como, novas propostas de prevenção e promoção da segurança e da saúde no trabalho são formuladas pelos gestores.
    Habilidades intelectuais e comportamentais como atualização constante; soluções inovadoras; decisões criativas, diferenciadas e rápidas; flexibilidade; liderança e aptidão para manter relações pessoais e profissionais estão em alta. Entretanto, apesar de sua importância, na maioria das vezes, tais habilidades se transformam em verdadeiros imperativos comportamentais do tipo: seja surpreendente! Seja criativo! Seja carismático! Seja proativo! Quebre paradigmas! E, não se esqueça, mantenha sempre o bom humor! Ufa! É de perder o fôlego e a paciência também! Contribuem, na verdade, para a manutenção de um sentimento de culpa por não conseguirmos cumpri-las plenamente, que por sua vez podem acarretar em transtornos mentais.
     De fato, o trabalho possui um sentido tanto individual quanto social, exercendo uma função mediadora na produção da vida de cada um ao garantir subsistência, criar sentidos existenciais ou contribuir na estruturação da identidade e da subjetividade do trabalhador.
     Segundo especialistas, um trabalho que tem sentido é importante, útil e legítimo para aquele que o realiza e apresenta três características fundamentais: a variedade de tarefas que possibilita a utilização de competências diversas; um trabalho não-alienante, onde o trabalhador consegue identificar todo o processo – desde sua concepção até sua finalização e, o retorno sobre seu desempenho nas atividades realizadas, permitindo ao indivíduo que faça os ajustes necessários para melhorar sua performance ou mesmo possa contribuir para mudanças da cultura institucional em prol de ações produtivas e não massacrantes. A questão é que nem sempre essas são condições oferecidas pelas organizações.
     O trabalho com sentido faz com que o trabalhador conheça e se interesse mais sobre sua atividade e possibilita que as organizações alcancem a eficácia sem a preocupação de constantes reforços ao trabalhador com "programas motivacionais" para estimulá-lo a gerar melhor desempenho. Aliás, tais programas são, em geral, ineficientes e deslocados da realidade, pois não passam de lugar-comum.
     Por fim, em relação à saúde e segurança no trabalho, empresários e trabalhadores deveriam refletir sobre como controlar ou reduzir os riscos em seu ambiente de trabalho com o objetivo de prevenir acidentes e doenças. Aos governantes, por sua vez, ficam os desafios de formular políticas públicas que promovam a eficiência, a transparência e a competência em nome da promoção da saúde no trabalho e da manutenção de um desenvolvimento sustentável. Vale lembrar que 28 de abril é o dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho, uma campanha internacional destinada a promover tanto a saúde e a segurança no trabalho quanto o trabalho decente.

4 comentários:

Juliana Seidl disse...

Olá Luiz!

É impressão ou sou a primeira a escrever aqui? =)
Soube do seu blog pela lista de e-mails da SBPOT. Acabei de me formar em psicologia na UnB e vou mestrado em POT na Universidade de Coimbra (Portugal). Ainda não decidi o tema do meu projeto, mas a área da saúde no trabalho me atrai bastante!

Acredito que o seu blog me ajudará a fazer boas reflexões sobre o tema. Já adicionei o link em meus favoritos.

Abraços, Juliana.

Anônimo disse...

Oi gonzaga,

Já add o seu blogger na minha lista de favoritos...É interesse como vc colocou a questão do mundo do trabalho. De fato, não podemos estudar a esfera trabalho sem levar em consideração o contexto o qual está inserido. Gostei principalmente do trecho"E, não se esqueça, mantenha sempre o bom humor! Ufa! É de perder o fôlego e a paciência também!" Sou suspeita p/ falar disso, pois além de vivenciar situações como essa, minha dissertação está trazendo esses aspectos das demandas emocionais no contexto de trabalho. As emoções quase sempre colocadas em baixo do tapete, já que as organizações refletem uma primazia racional, onde esses aspectos emocionais devem ser suprimidos e pronto!! Se alguém se interessar pela temática estamos aí!!! bjss Louise

Anônimo disse...

Parabens Luís,
Seu blog é mais uma ferramenta de discussão do tema muito importante. Um grande abraço

Fabio Lemes

Anônimo disse...

Olá...
Achei seu blog e gostei muito dos textos. Não conhecia sua temática de trabalho. Lembrei-me do livro de Viviane Forrester, O horror econômico... refleti muito sobre os limites e possibilidades da profissão docente, a partir dos seus textos. Enfim, temos muito o que conversar.
Parabéns. Abraços,
Keity